Na fervorosa atmosfera dos anos 1970 e 1980, o Vinho do Porto/Rally de Portugal desencadeava uma paixão desenfreada entre os espectadores, que se entregavam com uma devoção equiparável apenas à intensidade dos próprios rallyes.

A ronda de Sintra, em particular, era o epicentro dessa loucura. Uma multidão com centenas de milhares de adeptos apaixonados, aglomerava-se à beira da estrada, ávida por vislumbrar os carros rugindo pelas sinuosas provas classificativas disputadas nessa majestosa e pitoresca serra.

No entanto, essa devoção que se verificava por qualquer lugar onde o rally passasse, muitas vezes transcendia os limites da segurança, colocando em risco tanto os espectadores quanto os destemidos pilotos. Os relatos que eles faziam sobre a eminência de acidentes graves eram como advertências sinistras, mas apenas serviam para inflamar ainda mais a paixão dos adeptos, que viam esses perigos como parte intrínseca da emocionante experiência dos rallyes.

Na edição da prova de 1986, o que se temia aconteceu. Um grave acidente logo na fase inicial da prova levou ao abandono das equipas de fábrica, com posterior modificação profunda nos  carros, e na organização das provas, com o objetivo de reforçar fortemente as medidas de segurança.

Passadas dezenas de anos sobre esse fatídico dia 5 de março de 1986, existe algo que no entanto ainda persiste: a chama da paixão dos espectadores portugueses mantém-se, alimentada pela adrenalina e pelo espírito intrépido que definia essa era dourada do rally de Portugal.